Dia desses fui almoçar com uma amiga querida que passe o tempo que for, quando nos vemos, é uma festa. Ela é uma das pessoas mais libertas que conheço. Vale tudo mesmo, só não vale ficar preso a mesmice, ao tédio e a inércia não tem vez e esse calor todo é no mínimo, contagiante. Confesso que me sinto careta perto dela, como se meu queixo ficasse caído o tempo todo e não paro de dizer: Nãoooooooooooo!!!!!!!!!!! com aquela cara de estranheza cômica, com os olhos arregalados por querer saber mais. A conversa torna-se viciante.
Enfim, depois de mais de 6 meses nos reencontramos num bistrozinho bacaninha perto do trabalho. Era um dia ensolarado e minha branquice gritou ao lado de sua pele morena de sol que exalava maresia de dentro do vestido branco de bolinhas e sapatos vermelhos.
Durante o lanche colocávamos a vida em dia, falávamos sobre como é ficar alguns dias longe do ser amado, do trabalho, dos desafios, do casamento, da vida dos amigos, aquela coisa de "ah! a fuluna se casou", "a cicrana se separou", este tipo de aminidades que pairam nas conversas de Lulus.
Achei graça das aventuras e andanças de minha amiga e ela achou a minha muito mudada, e realmente ela tem razão. Enfim, foi como se a diferença de idade saltasse de 4 para 10 anos. Me senti madura e senti saudade da despreocupação quase insana que esteve comigo por um longo tempo. Contudo, percebi simplesmente que a vida nos leva por entre os caminhos que escolhemos e que estes podem sim ter sua rota alterada, mas certamente vc nunca mais terá o que teve antes, simplesmente por que tudo passou.
Resolvemos sair dali e tomar um café na Fnac. Ficamos ali por uma hora mais ou menos e a pergunta que não queria calar veio-me à boca e a expeli antes de dar tempo de engolí-la:
você o ama?
Sinceramente não gostaria de ter feito esta pergunta por que sabia qual era a resposta e sabia por que já havia passado por isso, por que a situação me era familiar, por que por mais que seja minha amiga, que amo, era aquelas situações em que vc gostaria de ficar na ignorância, por que dali iriamos entrar numa conversa que talvez ela não estivesse a fim de falar e era como se eu a tivesse forçado a ver o que já sabia, mas que lutava em enxergar, por medo da resposta.
- Amo, claro!
- Ama como homem ou como irmão?
- Ama como homem ou como irmão?
Silêncio...
- Não o amo como homem, é verdade, mas eu o amo.
- Não o amo como homem, é verdade, mas eu o amo.
- Sim vc o ama, mas não o suficiente para continuar com ele.
- É complicado...
E ai começamos uma longa conversa sobre amor, decepções, cansaço, medos, receios, filhos, família. O que era surpreendentemente maravilhoso anos atrás, não faz mais sentido. Tudo mudou, as pessoas mudaram, o humor é outro, os defeitos se acentuaram e nada é mais como era antigamente.
Naquela tarde concordamos 100% com uma coisa: há muitas coisas que não há como mantermos intactas durante o casamento, mas nossa essência, essa sim, tem que ser inviolável. Apenas nós, como indivíduos, podemos querer mudar alguma coisa, sendo assim, o outro nada mais é do que um mero espectador munido de seu livre arbitrio que o deixa decidir se continua ou não ao nosso lado. Para nós, deveria ser assim e por esta razão talvez ela comece a rever sua vida ou quem sabe não.
"Quero concluir este capítulo afirmando que sem tesão é impossível e inútil querer nos disciplinar, ser responsável e amadurecer. Sem tesão não se faz revolução" Roberto Freire - Sem Tesão Não Há Solução 1987
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